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Nipo-brasileiros 'testam' a receptividade do Japão a imigrantes

Notícia do dia 10/11/2008

Imigração é um tópico impopular mas inevitável neste fechado país.
Saiba como brasileiros e japoneses convivem em um conjunto residencial.

Norimitsu Onishi Do New York Times, em Toyota (Japão)

Enfrentando escassez de mão-de-obra na década de 1990, mas sempre receoso em permitir a entrada de estrangeiros, o Japão abriu uma exceção para os nipo-brasileiros. Com suas raízes, nomes e rostos japoneses, esses filhos e netos de imigrantes japoneses no Brasil se encaixariam mais facilmente numa sociedade extremamente fechada a pessoas de fora. Pelo menos é o que dizia a razão.

Foto: Ko Sasaki/The New York Times

Nas duas décadas desde então, apesar de crises econômicas periódicas como a atual, o número de trabalhadores nipo-brasileiros no Japão continuou aumentando. Eles estão agrupados em regiões industriais, pontilhadas de fábricas fornecedoras de empresas conhecidas como Honda, Sanyo e Toyota, cuja central de operações deu seu nome a esta cidade. 

Foto: Ko Sasaki/The New York Times

A brasileira Rita Okokama em sua lanchonete na cidade japonesa de Toyota. (Foto: Ko Sasaki/The New York Times)

Mas talvez em nenhum outro local deste país os japoneses e os nipo-brasileiros se conectem com tanta intensidade quanto num complexo habitacional público chamado Homi Estate. Construído nos anos 70 para jovens famílias japonesas, Homi tem uma população de 8.891 que hoje está quase igualmente dividida entre japoneses, com 52%, e estrangeiros, com 48%.

“Pra falar a verdade”, disse Toshinori Fujiwara, de 69 anos, líder comunitário japonês, “nunca imaginei, nem mesmo em meus sonhos mais loucos, que esta seria uma vizinhança multirracial.”

Uma geração para frente, provavelmente mais japoneses farão comentários similares à medida que a população envelhece e sua força de trabalho encolhe. Recentes situações de carências de trabalhadores se espalharam de fábricas a fazendas, barcos de pesca, hospitais e outras áreas, estimulando o Japão a abrir suas portas a trabalhadores temporários da China e de outros locais da Ásia.

Enquanto o aperto demográfico se intensifica, o Japão pode ser obrigado a se abrir ainda mais à imigração, dizem os especialistas, se for para se manter como uma enorme potência industrial. Entretanto o Japão, uma nação homogênea e de visão fechada, é notoriamente contra imigrantes; os coreanos que vieram para cá durante a segunda guerra mundial ainda são tratados como cidadãos de segunda classe.

Segundo os especialistas, para se tornar um destino atraente aos imigrantes, o Japão terá de se submeter a uma difícil transformação cultural – para a qual os nipo-brasileiros servem como um caso de teste elementar. Se nem mesmo eles conseguirem ser aceitos, que chance haverá para grupos imigrantes com diferenças étnicas, raciais, religiosas e de nacionalidade?

A imigração é um tópico impopular e delicado. Mas os 317 mil nipo-brasileiros do país – cujos filhos estão crescendo no Japão e, em muitos casos, atingindo a maturidade aqui – formam efetivamente a maior população imigrante do país. Do total, quase 94 mil adquiriram residência fixa, enquanto os outros podem ficar indefinidamente. As crianças nascidas no Japão de pais estrangeiros não ganham automaticamente a cidadania.

Uma cidade dentro de outra, Homi Estate – 40 prédios de apartamentos, casas separadas, escolas e lojas – se parece com qualquer outro complexo habitacional, se vista de longe. Mas, numa inspeção mais detalhada, a sinalização das ruas utiliza o japonês e o português. No complexo de compras da comunidade, restaurantes servem pratos brasileiros; uma loja de conveniência exibe revistas do Brasil. Um supermercado japonês foi substituído por um nipo-brasileiro no ano passado, refletindo a mudança demográfica em Homi.

Outras diferenças são mais sutis. Alguns elevadores estão cobertos de rabiscos, um tipo de vandalismo raramente visto no Japão. E estacionamentos guardam carros rebaixados e pintados de púrpura, enquanto os japoneses costumam preferir o cinza ou o branco.

No início, os japoneses não entendiam por que os nipo-brasileiros tocavam música alta, deixavam de separar perfeitamente seu lixo e não pareciam se importar com atrasos a compromissos. Para os nipo-brasileiros, a imagem muitas vezes borrada que seus pais e avós tinham do Japão parecia no máximo antiquada, e eles não se sentiam bem-vindos.

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“Eu tive sorte, pois os japoneses foram bons comigo”, disse Rita Okokama, 40, uma nipo-brasileira que mora aqui há 18 anos e é dona de uma pequena lanchonete, chamada Padaria. “Mas outros enfrentaram o preconceito. Por exemplo, comerciantes japoneses seguem os clientes nipo-brasileiros dentro da loja por temer furtos.”

Na escola primária Homi, onde crianças nipo-brasileiras representam 53% dos 196 estudantes, são oferecidas aulas suplementares de japonês, assim como ajuda em outras matérias. Em parte como resultado disso, as crianças nipo-brasileiras acabam não desistindo -- um problema comum em outras escolas, onde crianças estrangeiras são freqüentemente intimidadas.

Graças ao crescente número de estudantes nipo-brasileiros, alguns pais japoneses estavam receosos em deixar seus próprios filhos na escola. Funcionários da instituição tentaram persuadir os japoneses a manter suas crianças aqui enfatizando os efeitos colaterais positivos da presença nipo-brasileira.

“Este não é mais o tempo de um povo homogêneo, e sim de uma sociedade multirracial”, disse Mitsuyuki Shibuya, um funcionário da escola.

Sem saber ao certo por quanto tempo ficarão no Japão, muitos nipo-brasileiros mandam seus filhos a escolas particulares de ensino em português ou os deixam completamente de fora. Ir à escola não é obrigatório para estrangeiros.

Das quase 33.500 crianças nipo-brasileiras no Japão entre 5 e 14 anos, idade da educação obrigatória, cerca de 10 mil estão em escolas japonesas recebendo aulas corretivas de japonês, de acordo com números do governo. A maior parte do restante está provavelmente em escolas de ensino em português, ou não estuda.

Crianças que não freqüentam escolas japonesas tendem a se isolar da sociedade japonesa, disse Kiyoe Ito, diretora da Torcida, uma organização privada que ensina japonês a crianças nipo-brasileiras em Homi. Mesmo se eles pretendem mudar para o Brasil, sua compreensão daquele país também é limitada.

Foto: Ko Sasaki/The New York Times
Foto: Ko Sasaki/The New York Times

O brasileiro Nicholas Wada (à frente à direita) em escola da cidade de Toyota que tem quase metade dos alunos brasileiros. (Foto: Ko Sasaki/The New York Times)

Um garoto estudando japonês na Torcida numa manhã recente era Bruno da Costa, 15, cujos avôs maternos japoneses haviam imigrado ao Brasil. Com seus pais, Bruno se mudou para o Japão com apenas 1 ano, mas era incapaz de se expressar em japonês. Ele disse entender a maior parte de seu desenho favorito na TV, "Naruto”, mas filmes estavam além da sua compreensão.

“Sinto-me como um brasileiro porque fui a uma escola que ensina em português”, disse Bruno. “Se tivesse ido a uma escola japonesa, talvez me sentisse diferente. Mas o Japão também é meu país; eu cresci aqui. O Brasil, acho eu, é um país perigoso. Quero dizer, lá eu teria medo de andar pela rua com um iPod ou usando uma camiseta de marca. O Japão é seguro.”

Por volta das 17h nos dias de semana, ônibus das fábricas vizinhas trazem os trabalhadores do turno da manhã e levam o pessoal do noturno. A maioria dos nipo-brasileiros ganha em torno de US$ 12 por hora e trabalha em fornecedores da Toyota.

A empresa Tokai Rika, fabricante de cintos de segurança, começou contratando oito trabalhadores nipo-brasileiros em 1995 e hoje emprega 280, ou quase um quarto de sua força de trabalho na fábrica local. No ano passado, a empresa fez mudanças – incluindo a oferta de contratos mais longos a estrangeiros e a contratação de um cozinheiro nipo-brasileiro para o restaurante – para reter os nipo-brasileiros que pudessem ser atraídos por salários maiores na concorrência.

“Pra ser honesto, eles trabalham com mais dedicação do que os trabalhadores japoneses”, disse o gerente geral Hiroaki Ito, repetindo uma queixa comum dos empregadores – de que os japoneses jovens carecem da ética de trabalho dos mais velhos e tendem a desistir facilmente.

Kouji Buma, gerente da fábrica, disse unicamente, “Se considerarmos o futuro, nós simplesmente não conseguiremos operar esta fábrica sem os nipo-brasileiros.”

Hiroko Arakawa, 52, uma dona de casa japonesa que fazia compras no supermercado nipo-brasileiro, disse que seu filho, hoje na escola secundária, teve amigos nipo-brasileiros desde o primário. E que ela havia gostado muito de conhecer os pais deles.
O Japão deveria se abrir aos imigrantes e deixá-los com total acesso à sociedade, ela disse.

E concluiu: “Eles ficam doentes e precisam de seguro-saúde, como os japoneses. Se nós formos corretos com eles, eles não vão querer ir embora.”

Inserida em 03/03/2009




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